segunda-feira, 9 de maio de 2011

Pacotão de Cirurgia Plástica + Parto: Absurdo


 Fico muito feliz ao saber que existem profissionais como esse médico que pensa sim em seu trabalho, mas em primeiro lugar na Qualidade de vida de suas pacientes. Ética e Respeito em primeiro lugar.. ótimo texto!

Um artigo publicado na Folha On Line me chamou a atenção. Por falar em banalização.
Com o título “Corpos de consumo”, ROSE MARIE MURARO E MARIA TEREZA MALDONADO fazem uma análise do que a mídia causa nas pessoas frente a imposição de padrões de estética.
Como cirurgião plástico, sei, e sou defensor do conhecimento de que cirurgia estética é capaz de produzir qualidade de vida. Pela atuação do cirurgião em uma situação biológica (corpo) podemos modificar para melhor a situação psico social do/a paciente melhorando a sua qualidade de vida.
Mas, algumas pessoas se valem destes aspectos de uma forma questionável visando apenas lucro sem levar em consideração outros fatores que compõe o ser humano. Desta maneira coisas importantes como a segurança do paciente, suas relações sociais (de trabalho e familiares) seu desejo e individualidade são colocados de lado o que pode causar uma repercussão negativa sobre a qualidade de vida de uma pessoa e de todos que com ela convivem.



Neste artigo é citado o “Pacote de cirurgia pós-parto” que vem sendo vendido por alguns sites como sendo a solução para consertar o estrago feito pela gravidez aproveitando o momento do parto. Neste “pacote” na realização do parto, procedimentos de lipoaspiração, mamoplastia, abdominoplastia e outros são realizados de maneira a obter este “Conserto”.
As autoras citam que alguns médicos mais sensatos recomendam que os procedimentos sejam realizados após transcorrerem alguns meses do pós-parto. Isto não é sensatez apenas isto é uma necessidade.
Realizar procedimentos de estética associados a cirurgias, principalmente ginecológicas e abdominais, pode parecer algo lógico, afinal podemos aproveitar a internação a anestesia e fazer a cirurgia, mas é extremamente perigoso. Uma cirurgia ginecológica é tida como cirurgia contaminada, devido a presença de flora vaginal natural na mulher. Se esta flora pela manipulação durante a cirurgia infectar o local da cirurgia estética pode causar situações graves de infecção com risco de morte, ou surgimento de seqüelas irreversíveis muito mais inestéticas que qualquer “deformidade” causada pela gravidez.
Cito casos graves de pessoas que tiveram sepse, necrose de pele do abdome, após realizarem abdominoplastia associada a procedimentos ginecológicos.
É certo que dependendo do procedimento é possível fazer associação de uma cirurgia estética, mas, mesmo que seja uma associação segura, sempre que temos este tipo de situação aumenta-se muito a morbidade e mortalidade que estão associados a qualquer procedimento cirúrgico. Este fato deve ser levado em consideração pois pode ser causa de problemas graves e um procedimento muito grande deve ser evitado e o tratamento feito em etapas complementares com intervalos de recuperação entre um tempo cirúrgico e outro.
O Pós-parto envolve uma situação muito complexa.
É nesta fase onde a mulher estará envolvida socialmente com a sobrevivência de bebe, alem de ser a mais importante no desenvolvimento do relacionamento mãe e filho. Alem de ter que se recuperar de uma gestação e do trabalho de parto ter que recuperar-se de uma cirurgia estética pode ser muito problemático. A cirurgia estética muitas vezes exige da paciente abstinência de esforços físicos o que inviabiliza que a mulher possa cuidar de seu filho recém nato já que não poderá segura-lo no colo ou carregá-lo, se fizer pode comprometer o resultado final da cirurgia ou desenvolver seqüelas.
A gravidez coloca a mulher em uma situação diferente de seu estado normal. Isto leva a uma perda da noção de Self, ou seja, da perda da sua imagem corporal ou maneira como nós mesmos nos vemos. Como é uma perda de identidade temporária não há como prever como será a noção de Self depois de decorrido alguns meses do parto, assim, nesta situação teremos um corpo em mudanças e uma perda de identidade e modificar algo que esta evoluindo representa imprevisibilidade de resultados e pode ser que ocorram arrependimentos futuros. Exemplo: durante a gravidez é comum ocorrer aumento do volume mamário. Este aumento nem sempre é permanente e após o término dos estímulos a amamentação as mamas podem sofrer regressão retornando ao estado similar ao do antes da gestação. Se nesta condição a mulher sofrer uma cirurgia de redução mamária o volume e forma final das mamas resultantes serão imprevisíveis e o resultado pode ser desastroso.
Nesta fase o momento é de mudanças sociais e psíquicas para a mãe o que pode ser causa de inseguranças e angústias e mudanças sejam qual for podem gerar mais conflitos do que soluções.
É prudente aguardar alguns meses após o nascimento de um filho para realizar qualquer mudança corporal. Após este período a mulher retorna a seu estado de identidade pessoal anterior, as mudanças biológicas da gestação já sofreram regressão, permitindo que o resultado final de um tratamento possa ser mais bem previsto e desta maneira há maior segurança na sua realização.
O mundo atual exige corpos perfeitos e uma corrida contra o envelhecimento não sendo perdoado aquele que fuja a um padrão de estética que foi absorvido por uma sociedade mas isto, como bem colocado no artigo, não pode comprometer o bem estar familiar, social e a segurança da uma pessoa. Antes de acreditar que esta fazendo o melhor a si mesma verifique com cuidado se aquilo que esta sendo proposto é realmente o melhor e você não esta se expondo a situações de risco.

Evitar um pacote deste tipo sempre é prudente. Dê um tempo a seu corpo para que a natureza ajude na reversão das alterações biológicas da gravidez e então após algum tempo (em minha opinião, após o primeiro ano pós nascimento) se for necessário busque ajuda para corrigir algum problema estético remanescente, somente assim a cirurgia estética poderá ser segura e bons resultados serão obtidos.


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