quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Os riscos do nascimento em casa x riscos no hospital



*Por Marília Largura

Existem riscos que a mãe corre quando dá à luz em casa da mesma maneira que quando dá à luz no hospital. Nem um nem outro representam riscos em si mesmos.

As pesquisas feitas com o objetivo de comparar a margem de segurança dos partos realizados em casa e nos hospitais chegam todas às mesmas conclusões: nos partos nos quais as condições são comparáveis, as taxas, de mortalidade e morbidade são iguais ou ligeiramente inferiores quando o parto é realizado em casa.

Um dos estudos mais conhecidos de Lewis Mehl, médico da Califórnia, comparou o parto de 1.146 mulheres, semelhantes em idade, estado de saúde, situação sócio-econômica e número de filhos.

O estudo de Holliday Tyson analisou os resultados de 1.001 partos em casa assistidos por parteira entre 1983 e 1988 em Toronto. Os resultados de sua pesquisa são muito claros: um parto em casa assistido por um profissional, estando a mãe no gozo de sua saúde, não apresenta mais riscos que um parto no hospital.
Muitos pequenos detalhes se acumulam durante a gravidez e o trabalho de parto, aparentemente sem ligação entre eles, como pequenas manchas coloridas que, ao longo do tempo, vão se juntando e formando uma imagem, a imagem do parto. A parteira permanece atenta a tudo de forma a prever acontecimentos que poderiam ofuscar essa imagem. Se as ações realizadas no transcorrer do trabalho não conseguem o efeito desejado, uma transferência para o hospital pode ser realizada em tempo, antes que o problema se agrave.

As verdadeiras urgências durante o parto, as que se apresentam sem serem previstas, são raras. Todo profissional que atende o parto em domicílio deve saber como lidar com as urgências, tais como: dificuldade respiratória do bebê ou uma hemorragia uterina materna. Para isso deverá contar com o equipamento necessário (oxigênio, máscara para reanimação, injeção de oxitocina, etc.). Quando for preciso transferir a mãe e o bebê para o hospital, as condições de ambos devem estar estáveis.

CONTRA-INDICAÇÕES DO PARTO EM CASA

O parto só pode ser realizado em casa se a mãe estiver gozando de saúde perfeita e quando o desenvolvimento da gravidez deixa prever um parto normal.

Segue uma relação de condições de saúde que excluem a possibilidade de um parto em casa. Algumas dessas condições são perceptíveis desde a primeira visita; outras se desenvolvem durante a gravidez:

- hipertensão crônica ou súbita

- saúde precária incluindo problemas cardíacos, renais e pulmonares, problemas neurológicos e psiquiátricos sérios e toda outra condição de doença grave

- cirurgia uterina anterior

- anemia grave

- diabetes

- doença hipertensiva específica da gestação

- retardo de crescimento intra-uterino (o desenvolvimento do bebê não está de acordo com a idade da gestação)

- gêmeos

- apresentação pélvica, quando a posição do bebê dentro do útero é de nádegas para baixo. A posição mais comum e que permite o parto em casa é a cefálica, na qual a cabeça se apresenta em primeiro lugar. Em todos os outros tipos de apresentação o parto em casa deve ser evitado

- trabalho de parto prematuro (antes que a gestação tenha completado 37 semanas)

- lesões ativas de herpes nos órgãos genitais no momento do parto principalmente se for a primeira crise. O herpes se assemelha a pequenas bolhas de água disseminadas na mucosa dos grandes e pequenos lábios, mucosa vaginal e colo do útero

Condições anormais que podem se desenvolver durante o trabalho de parto:

- alteração da cor do líquido amniótico. Este é cristalino nos primeiros meses de gestação tornando-se depois opalescente. O bebê pode evacuar dentro do útero suas primeiras fezes de cor verde escuro que chamamos de mecôneo e que tornam o líquido da bolsa esverdeado. Este fato às vezes representa que o bebê está tendo o que em termos técnicos chamamos de "sofrimento fetal". Outras alterações na cor do líquido para vermelho ou marrom achocolatado são sinais que indicam e aconselham remoção para o hospital:


- sofrimento fetal que é indicado por mudança da freqüência dos batimentos cardíacos do bebê (desacelerações prolongadas e acelerações importantes)

- sinais de placenta anormalmente inserida quando a placenta não permite ou dificulta a passagem do bebê

- deslocamento prematuro de placenta quando a placenta se desprende do útero antes do nascimento da criança

- visualização do cordão umbilical antes da cabeça do bebê. O cordão corre o risco de ser comprimido e prejudicar a oxigenação do bebê

- parada na progressão do trabalho de parto que passa a não se desenvolver no ritmo esperado ou mesmo que permanece estacionário

O parto de gêmeos e do bebê que se apresenta de nádegas pode ser absolutamente normal. Entretanto, no decorrer do trabalho, podem se apresentar situações delicadas que exigem intervenção especializada.


Pode acontecer que uma complicação grave ocorra em casa e traga sérias conseqüências para a vida e a saúde da mãe e do seu bebê. Essas conseqüências talvez pudessem ter sido evitadas no hospital. Em oposição, o inverso também pode acontecer.

Existem hospitais de pequeno, médio e grande porte que oferecem recursos diferenciados. Os mais especializados como os hospitais universitários oferecem recursos humanos e de tecnologia superiores.
Na Holanda, quase 40% dos partos são realizados em casa. As taxas de mortalidade e morbidade desse país são semelhantes aos países que apresentam maior taxa de assistência hospitalar que domiciliar. Podemos concluir que o levantamento de anormalidades feito pelas parteiras durante a gravidez e o parto é totalmente eficaz e que os partos de risco são transferidos em tempo hábil para o hospital.

Além dos critérios universais já assinalados que desaconselham o parto em casa, alguns profissionais possuem critérios particulares trabalhando com o que consideram seus próprios limites, não prometendo mais do que podem realizar.

Alguns preferem não assistir as mães que dão à luz seu primeiro filho, porque desconhecem as reações do organismo da mãe frente ao trabalho de parto. Outras patologias raras podem se apresentar como quando acompanhando uma parturiente notei, no primeiro toque vaginal, que os ossos da calota craniana eram frágeis e delicados como um papel de seda (craniotabis). Achei que o bebê corria sério risco de lesão cerebral e a encaminhei para o hospital.

Fonte: http://www.partohumanizado.com.br

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