sábado, 23 de outubro de 2010

As dores da gravidez

 *Por Ribeiro de Lemos Fontana
Fisioterapeuta

Um grande número de mulheres grávidas parece sentir dor nas costas, ou dor associada às articulações das ancas, em qualquer fase. A maioria desses incómodos pode ser explicada pelo efeito relaxante e suavizante das hormonas durante a gravidez, como a progesterona e a relaxina. Somam-se a isso o aumento de peso, a retenção de líquidos e mudanças posturais.

O útero crescente e os seus conteúdos podem dar margem a fortes dores de “puxão”, “pressão” e “aperto”, entre outras. Para enfrentar o problema, podem ser ensinadas estratégias de auto-ajuda, de modo a que as mulheres sejam capazes de se tratar, desde que seja feito o diagnóstico correcto.

 Diferenças

A intensidade e a duração da dor são geralmente flutuantes e podem variar de uma gravidez para a outra. Existem diferenças: uma mulher queixa-se de uma pequena rigidez passageira ou incómodo, enquanto outra fica completamente incapacitada.

As pesquisas indicam que, para cerca de 50% das mulheres grávidas, a dor é de intensidade e duração suficientes para interferir no seu estilo de vida; para 1/3 delas, a dor é muito grave. O primeiro episódio de dor numa gravidez pode ocorrer em qualquer etapa, mas para a maioria é entreo 4º e 7º mês.

Estudos revelaram que a maioria das sofredoras tem dor na parte inferior das costas; para cerca de metade delas, a dor irradia para as nádegas e coxas e ocasionalmente até às pernas, como ciática. Em muitos casos, a dor nas costas torna-se pior quando a grávida está de pé, se senta, se inclina para a frente, levanta pesos e caminha – ou seja, quando faz movimentos básicos.
É digno de nota que a dor nas costas antes da gravidez não leva inevitavelmente à dor nas costas durante a gravidez. Algumas mulheres sentem menos dor nas costas do que de costume enquanto grávidas. Como explicar isso?

As alterações na carga e na postura da coluna, que mostram ser benéficas, e o efeito de “apoio” do útero ascendente, limitando o movimento do tronco, têm sido sugeridas como explicações.

Naturalmente, não deve ser esquecido o andamento natural dos processos de cura.
É geralmente aceite que a fadiga e a maior mobilidade das articulações, aliadas às mudanças induzidas pelas hormonas no colágeno, o facto de o colágeno remodelado ter um volume maior e causar pressão nas estruturas sensíveis à dor, o aumento de peso com maior carga espinal, as adaptações necessárias à postura, e a pressão do feto em crescimento, são factores que poderiam explicar a maior incidência de dor nas costas nas mulheres grávidas, em comparação com as não-grávidas.

Prevenção

O fisioterapeuta obstetra tem como principal objectivo ajudar a evitar que as mulheres grávidas tenham qualquer dor nas costas antes do parto. Isso não será possível em todos os casos, mas a dor mais intensa pode ser evitada ou pelo menos amenizada.

O simples uso prudente das costas pode ajudar. É importante que a mulher tome consciência do próprio corpo, e procure entender e conter qualquer dor que esteja a sentir antes de ficar grávida, mesmo que não haja uma correlação clara entre a dor nas costas antes e depois da gravidez.

As aulas pré-natais devem incluir o treino da percepção do corpo e conselhos adequados sobre o cuidado com as costas, com regular reforço e correcção quando necessário.
Veja os nossos quadros de sugestões para evitar dor e incómodo nas posições básicas.

Repouso e exercícios

A mulher grávida deve ser treinada a reconhecer as sensações do próprio corpo, como conforto, bem-estar, esforço e fadiga. As actividades precisam de ser interrompidas antes e não depois que causem dor. A causa de qualquer dor nas costas deve ser procurada retrospectivamente, a fim de evitar que se repita.

Na fase aguda da dor, é necessário repouso. A mulher deve entender bem o que pode ou não fazer. Deve ser libertada das actividades, para repouso adequado e informada quanto às adaptações necessárias.

Quando o estado é menos agudo, ainda assim é prudente uma redução das actividades em geral. O sono restaurador é a principal prioridade. A dor e o espasmo muscular reagem bem a um pouco de calor, massagem, manipulação e alongamento, com a paciente deitada de lado, se for preciso.

Se o seu estado começa a melhorar, deve ser instituído um plano de exercícios, para recuperar a força. A água é um meio agradável para esse fim.

Deitar.

As posições confortáveis de repouso e sono são obrigatórias. O peso crescente pode tornar o leito abaulado, tornando necessário apoio adicional para o colchão.


 Dada a largura das ancas e o peso do abdómen, a grávida costuma girar a pelve para a frente quando está deitada de lado, a fim de descansar a perna e o abdómen. Essa rotação adicional pode ser suficiente para causar dor e o peso que arrasta pode ser suficiente para forçar a articulação da anca. As almofadas sob a parte superior da coxa e entre os joelhos resolvem isso.

Na posição supina (barriga para cima), as mulheres costumam ficar mais confortáveis com almofadas sob as coxas. Mas é desaconselhável ficar nessa posição durante períodos prolongados no fim da gravidez.

Quando a mulher tem que se levantar várias vezes à noite para urinar, torna-se importante que ela saiba a melhor maneira de sair da cama, sem forçar a coluna. Isso é feito flexionando os joelhos, virando-se para o lado e sentando-se lateralmente, empurrando com os braços enquanto deixa cair as pernas sobre a parte lateral da cama. Para voltar à cama, o processo é inverso.

Com muitas mulheres a trabalhar em cargos exigentes, é necessário sublinhar a grande importância do repouso adequado. A dor nas costas pode ser simplesmente uma queixa corporal, para quem está a ser pressionada física e mentalmente.

Problemas de exaustão, ansiedade sobre a gravidez, falta de apoio necessário, dificuldades domésticas e financeiras predispõem à fadiga, insónia, tensão e acidentes e darão margem à dor. As queixas de dor podem ser um brado de alerta ou pedido de atenção e ajuda.

Sentar.

Teoricamente, o assento é do tamanho das coxas e das nádegas, e a sua altura é a distância do tornozelo ao joelho, de modo que as ancas e as coxas ficam em ângulo recto. O contorno do encosto da cadeira deve coincidir com as curvas da coluna e apoiá-la numa boa postura sentada. As nádegas devem ficar bem no fundo no assento da cadeira.


Um apoio firme na região lombar mostrou ser muito importante para evitar e aliviar a dor das costas na gravidez. As mulheres são estimuladas a sentarem-se direitas.

É desaconselhável ficar sentada durante longos períodos. As mudanças frequentes de posição são importantes para prevenir a dor nas costas e amenizar os distúrbios circulatórios.


Ficar em pé e caminhar.

Caminhar é preferível a ficar em pé, mesmo para uma gestante, devido aos efeitos circulatórios e de movimento. Uma pequena caminhada é um bom exercício diário aceitável para a maioria das pessoas. Entretanto, andar muito pode provocar dor.


As actividades devem permitir à grávida ficar em pé, direita, ou sentar-se numa boa posição. Inclinar-se para a frente, por pouco que seja, e girar muitas vezes o tronco parecem ser os factores ligados com a dor nas costas.
Quando for preciso ficar em pé durante muito tempo, deve-se fazer isso apoiando um pé num suporte elevado, intercalando os pés no suporte.




Baixar-se e levantar pesos

Levantar pesos grandes deve ser evitado ou dividido com outra pessoa. O corpo tem que lidar com o próprio peso aumentado, e as articulações relaxadas são inclinadas ao stresse. Carregar pesos deve ser reduzido ao mínimo. As roupas devem ser leves. Os pacotes devem ter duas cargas iguais, em vez de uma, que força o corpo a uma inclinação lateral do tronco.


Desde o início da gravidez, a mulher deve ser orientada a inclinar as ancas e joelhos em vez das costas ao baixar-se. Por isso, algumas musculaturas deverão ser reforçadas.

Vale a pena ressaltar a importância dos princípios ergonómicos em relação aos cuidados e equipamentos para o bebé, promovendo soluções para o problema de dor nas costas, como o banho do bebé e a mudança de fraldas.

Fonte: Saudelar

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Cientistas descobrem a causa da hipertensão durante a gravidez

Cientistas descobriram um mecanismo que aumenta a pressão arterial em pré-eclâmpsia, uma condição que pode levar à morte durante a gravidez. A descoberta ainda pode ajudar a desenvolver novos medicamentos para a hipertensão.

 Pesquisadores das universidades britânicas Cambridge e Nottingham decifraram o primeiro passo do processo principal que controla a pressão arterial --a liberação de um hormônio chamado angiotensina, desde a sua fonte proteica, o angiotensinogênio.

"Embora tenhamos focado principalmente na pré-eclâmpsia, a pesquisa também abre novas pistas para futuras investigações sobre as causas da hipertensão arterial em geral", disse Zhou Aiwu da Universidade de Cambridge, cujo trabalho foi publicado na revista "Nature".
Especialistas estimam que o custo do tratamento de mulheres grávidas com pré-eclâmpsia é de US $ 45 bilhões por ano nos Estados Unidos, Europa, Ásia, Austrália e Nova Zelândia. Nos países em desenvolvimento, estima-se que 75.000 mulheres morrem a cada ano devido à condição.
 
Se as mães e seus bebês sobrevivem, as mulheres correm um maior risco de sofrer pressão alta, doença cardíaca, derrame e diabetes. Os bebês geralmente nascem prematuros e podem sofrer complicações mais tarde na vida.
 
A hipertensão é classificada como o maior fator de risco para as causas de morte no mundo, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde).
As drogas usadas atualmente para tratar a pressão arterial elevada incluem inibidores que bloqueiam a produção de angiotensina, ou bloqueadores dos receptores da angiotensina, que impedem o efeito da angiotensina no corpo após sua liberação.
 
Robin Carrell, que liderou o projeto de pesquisa por 20 anos, disse que esses tipos de drogas geralmente funcionam bem no tratamento da hipertensão padrão, mas não podem ser administrados a mulheres grávidas, uma vez que representam um risco para o desenvolvimento do bebê.
Para o estudo, os cientistas usaram um feixe de raio-X intenso para analisar a estrutura do angiotensinogênio e descobriram que ele pode ser oxidado e se transforma numa enzima chamada renina. Em seguida, a renina interage com a proteína para liberar o hormônio angiotensina, que por sua vez aumenta a pressão arterial.
 
Os investigadores de Nottingham testaram os resultados de laboratório em análises de amostras de sangue de mulheres com pré-eclâmpsia e pessoas com pressão arterial normal. Eles verificaram que a quantidade de angiotensinogênio oxidado --e, portanto, mais ativo-- foi maior em mulheres com pré-eclâmpsia.
 
Carrel disse que a primeira etapa do trabalho ajudou a explicar por que a pressão arterial elevada, por vezes, ocorre na gravidez quando o corpo reajusta para a necessidade de oxigênio do feto.

Fonte: Folha online

sábado, 2 de outubro de 2010

Disfunções urogenitais são comuns em mulheres?

A área da fisioterapia em uroginecologia ainda é pouco conhecida, mas vem ganhando interesse da comunidade de acordo com os resultados positivos obtidos no tratamento de alterações que podem afetar a saúde urogenital da mulher.

Durante a vida, a mulher passa por fases em relação ao seu sistema urogenital que podem predispô-la a alterações. Por exemplo, durante a gestação pode haver uma sobrecarga do períneo, e a queda hormonal após a menopausa pode levar as estruturas musculares a se enfraquecerem.

A musculatura do períneo oferece sustentação a órgãos como útero e bexiga, e se em algum momento esta musculatura se apresentar fraca, alterações como a incontinência urinária ou fecal podem aparecer.





Após avaliação das causas da disfunção urogenital, a fisioterapia atua devolvendo a integridade da condição muscular perineal. Mesmo nos casos em que há necessidade também de correção cirúrgica, é importante o fortalecimento muscular para que não haja recorrência do problema inicial.

A incontinência urinária é a perda involuntária de urina durante a realização de um esforço, tosse, espirro, riso ou até mesmo ao ouvir barulho de água. A especialidade da uroginecologia dispõe de uma avaliação muscular específica para cada caso de incontinência urinária.

De acordo com cada caso, procede tratamento associando recursos como exercícios perineais específicos, indicação do uso de cones vaginais, conscientização da musculatura e também eletroestimulação quando a mulher já não apresenta força muscular suficiente para contrair o períneo.

Outras queixas que a uroginecologia também pode tratar são as relacionadas com a conhecida TPM, cólica menstrual aguda, endometriose e a dor ou desconforto durante a relação sexual. Nestes casos, a fisioterapia pode orientar técnicas e exercícios específicos para o alívio dos sintomas destas afecções.

No dia-a-dia, a mulher pode adotar hábitos que ajudam a manter a boa saúde urogenital de forma a amenizar ou prevenir alterações que podem se instalar.


Mitos e Verdades

- Mito: acreditar que a mulher, após a menopausa, desenvolverá algum grau de incontinência urinária, pois esta só se justifica havendo algo errado. Portanto, a incontinência urinária não é normal em idade alguma.

- Verdade: um bom trabalho de fortalecimento da musculatura perineal, além de tratar ou prevenir a incontinência urinária, traz também melhora da qualidade da função sexual.

Adriana Paula Fontana Carvalho, docente da área de fisioterapia aplicada à ginecologia e obstetrícia e mestre em medicina e ciências da saúde.

Fonte: Fisioterapia uroginecológica